Rio -  Paul McCartney, que vem ao Brasil em maio, vai visitar favelas cariocas. Vai rebolar até o chão ao som do funk. Vai curtir um tamborzão. Ok, isso tudo é sonho. Mas uma coisa, pelo menos uma, é fato: os batidões já estão na mira do ex-beatle. O produtor do próximo disco do cantor, Mark Ronson, confessou ao tabloide britânico ‘New Musical Express’, que o álbum tem influências de “baile funk”. Paul mostrou a ele “um som pós-Bonde do Rolê” (grupo curitibano que faz funk à maneira dos bailes cariocas) e pediu: “Como eu consigo essa energia?”. Teria o compositor de ‘Hey Jude’ e ‘Yesterday’ embarcado na onda do funk?
Foto: EFE
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O DJ do Bonde do Rolê, Rodrigo Gorky, revela: seu som já chegou de verdade nafamília McCartney. “A Stella McCartney (filha do músico e estilista) usou uma música nossa num desfile d. A gente até ficava brincando com isso: ‘Será que o Paul conhece a gente?’”, diz, sem esconder a curiosidade. “Queria saber se ele ouviu mesmo o Bonde. O Mark Ronson, eu acredito que tenha ouvido. A (cantora pop) Lily Allen foi a shows nossos em Londres quando ele estava produzindo o disco dela”.
O bonde do Paul já saiu dos bailões de subúrbio e chegou até Londres, pelas mãos de uma das maiores forças atuaisdo gênero, o DJ Sany Pitbull. Ele, no ano passado, durante o evento Rio Occupation London (que levou 30 artistas cariocas para a capital da Inglaterra), pôs batidas de funk em músicas como ‘Yellow Submarine’ e — acredite — o baladão ‘Yesterday’, e viu a galera rebolar com o lendário rock de Liverpool.
“O Paul tá sempre na vanguarda! Ele pode até não colocar um tamborzão na música, mas se fizer mesmo algo com referência de funk vai ser muito bom para nós”, alegra-se o DJ, que convida o ex-beatle: “Vem, Paul, dançar o passinho do menor da favela. Ganhamos um selo de qualidade, uma chancela chamada Paul McCartney. Engole a gente aí,irmão!”.
Já Mr. Catra promete uma homenagem ao mais novo funkeiro da praça. “Tô fazendo uma versão de ‘Yellow Submarine’! Nem sei qual o título ainda, estou escrevendo”, vocifera o cantor, que já pôs versos impublicáveis em clássicos como ‘Tarde em Itapoã’, de Toquinho e Vinicius de Moraes e até em ‘Satisfaction’, dos Rolling Stones. “Essa história do Paul mostra que preconceito não leva a nada. Muita gente fala que funk é música de ignorante, mas ignorante é quem diz isso. Viva os Beatles, viva Paul McCartney!”, elogia.
“Achei sensacional essa notícia. Em Londres, as pessoas ouvem muita música africana, isso é forte lá”, comemora o DJ João Brasil, que também já uniu Beatles e batidões no álbum ‘Let It Baile’, com 12 mash-ups (mixagens que unem duas ou três músicas diferentes em uma só) juntando músicas do quarteto de Liverpool a hits do funk carioca — incluindo faixas como ‘I’ve Got A Vacilão’, cruza de ‘I’ve Got A Feeling’ dos Beatles, com ‘Tremendo Vacilão’, da ex-funkeira Perlla.
“Acho que o Paul quer mesmo é a essência do estilo. Duvido que tenha um batidão ou um beat box. Se tiver, vai ser sensacional”, diz João, que recomenda dois hits básicos do funk para o ídolo conhecer o melhor do estilo: o atualíssimo ‘Passinho do Volante’ (o popular “Ah, lelek, lek, lek”) e ‘Balança Mas Não Para’, do MC Buiú.
Com ou sem beat box, pode acreditar: Paul McCartney já foi som de preto, de favelado e não deixou ninguém parado. E nos bailes dos anos 80! Quem revela é o pesquisador musical e fã dos Beatles Marcelo Froes. “Em 1980, num lado B de single, ele lançou a canção ‘Check My Machine’. Por algum motivo, essa música começou a tocar em bailes funk cariocas dos anos 80, justificando até a EMI brasileira a relançar o single em 1986 só por causa de seu lado B. Ano passado, achei uma coletânea pirata de funk na feira de São Cristóvão e ‘Check My Machine’ estava lá! Ele nem deve desconfiar disso”.
Com as funkeiras
Não olha para o lado, que quem está passando é o Paul: o eterno beatle volta ao Brasil em maio — vai para Belo Horizonte (dia 4), Goiânia (dia 6) e Fortaleza (dia 9), levando a reboque seus grandes clássicos. E as funkeiras querem requebrar com o inglês ao som do pancadão. A musa Valesca Popozuda quer levar o cantor para dançar no Complexo do Alemão. “Vamos curtir um baile, tenho certeza que você vai se amarrar! Ouça muito funk para levar o melhor das favelas para o mundo”, diz a funkeira, que convida o autor de ‘Live And Let Die’ para cantar num show dela. “Minha mãe sempre foi fã dele e dos Beatles! Quero muito ir ao show dele”.
“É a maior honra o Paul McCartney fazer um disco com influência do nosso som. Já sofremos tanto preconceito. Depois do Roberto Carlos, que fez um funk (‘Furdúncio’), agora é ele”, alegra-se Renata Frisson, a Mulher Melão. Assim como Valesca, ela também quer mais do que assistir ao cantor. “Paul, me chama para dançar com você. Seu show vai ficar bem melhor!”
Reportagem de Ricardo Schott